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Clipping IAG

Metade das crianças brasileiras não recebeu todas as vacinas que deveria em 2020, apontam dados do Ministério da Saúde

Grupo IAG Saúde
10/09/2020

Dados do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde apontam que cerca de metade das crianças brasileiras não recebeu todas as vacinas previstas no Calendário Nacional de Imunização em 2020.

Segundo os índices do PNI, atualizados até segunda-feira (7), a cobertura vacinal está em 51,6% para as imunizações infantis. O ideal é que ela fique entre 90% e 95% para garantir proteção contra doenças como sarampo (que tem índice ideal de 95%), coqueluche, meningite e poliomielite.

Neste ano, entretanto, a cobertura vacinal da primeira dose da tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola) está abaixo de 60%. A da segunda dose está abaixo de 50%. Nenhuma das vacinas previstas no calendário infantil teve índices acima de 60% (veja tabela abaixo).

   

Cobertura vacinal (em % por tipo de vacina) até 07/09

 
Imuno Coberturas Vacinais
TOTAL 51,56
BCG 53,06
Hepatite B em crianças até 30 dias 46,90
Rotavírus Humano 56,92
Meningococo C 57,17
Hepatite B 55,78
Penta 55,78
Pneumocócica 59,68
Poliomielite 54,70
Poliomielite 4 anos 44,63
Febre Amarela 42,71
Hepatite A 54,22
Pneumocócica(1º ref) 53,52
Meningococo C (1º ref) 56,52
Poliomielite(1º ref) 48,30
Tríplice Viral D1 58,89
Tríplice Viral D2 46,66
Tetra Viral(SRC+VZ) 19,95
DTP REF (4 e 6 anos) 50,85
Tríplice Bacteriana(DTP)(1º ref) 59,69

Em nota (veja íntegra ao final da reportagem), o Ministério da Saúde disse que os dados de vacinação de 2019 e de 2020 "são preliminares e estão em fase de fechamento", e que "estados e municípios têm até final de setembro para inserção dos dados referentes a 2019, e os dados de 2020 serão consolidados em 2021. Sendo assim, neste momento, não é possível avaliar a adesão à vacinação deste ano".

O baixo índice de imunização já tem consequências: dados do Ministério da Saúde mostram que, até o início de agosto, o país tinha 7,7 mil casos confirmados de sarampo. No ano passado, o Brasil perdeu o certificado de erradicação da doença.

Para Isabella Ballalai, pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o motivo da baixa cobertura é a pandemia de Covid-19, que levou as pessoas a ficarem em casa e não saírem para vacinar os filhos.

"Essa situação se repete no mundo inteiro. Houve uma queda entre 30% e 50%", afirma Ballalai. A médica lembra que, apesar das quedas vistas nas taxas de imunização no Brasil nos últimos anos, o país continua com uma das melhores coberturas vacinais do mundo.

"Essa cobertura não é simplesmente um número. Sem cobertura vacinal, nós estamos suscetíveis a todas essas doenças – surtos de meningite, retorno da poliomielite", lembra a pediatra.
 

"Essas doenças eliminadas só estão eliminadas por causa da vacinação", pontua Ballalai.

A infectologista Raquel Stucchi, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), avalia que a chance de o país alcançar a cobertura ideal de vacinação ainda neste ano é "quase nenhuma".

"Acho muito pouco provável que em 3 meses a gente consiga recuperar e chegar a essa cobertura", afirma Stucchi.
 

No ano passado, o país não atingiu a meta da cobertura vacinal infantil (veja vídeo abaixo). O último ano em que a cobertura infantil alcançou os 90% foi 2015.

 

Outros fatores

O professor Túlio Batista Franco, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói (RJ), aponta para fatores políticos como contribuintes para a baixa cobertura vacinal.
"Essa redução das vacinas certamente já é impacto da descoordenação que nós temos no Sistema Único de Saúde (SUS)", avalia.
 

"O governo federal desorganizou todo o equilíbrio técnico que havia no Ministério da Saúde. Houve duas alterações de ministros, e hoje há um ministro militar que não conhece dos aspectos da Saúde, do funcionamento da máquina do SUS, e que levou para as áreas técnicas militares que também não conhecem", afirma.

Raquel Stucchi avalia que outra questão pode ser a de que pediatras mais novos, ao contrário dos mais antigos, enfatizam pouco a necessidade de manter as vacinas em dia. "Era uma coisa muito enfatizada pelos pediatras mais antigos", diz.

"Outro fator é que, na maior parte das famílias, os adultos responsáveis pelas crianças trabalham, e os horários das vacinas são em horário comercial. Isso limita muito o acesso", diz Stucchi.
 

A infectologista também aponta o movimento antivacina como um fator que contribui para a queda da cobertura vacinal, mas, na avaliação de Isabella Ballalai, da SBIm, esse movimento não tem tanta força no Brasil.

Os motivos que levam as pessoas a atrasarem o calendário de vacinação, segundo a pediatra, são o que chama de "três Cs": a confiança, a complacência e a conveniência. Se as pessoas não confiam nos profissionais de saúde, por exemplo, a probabilidade de que elas se vacinem é menor (mas os brasileiros costumam confiar em vacinas, afirma Ballalai).

"No Brasil, todas as pesquisas realizadas mostram que pelo menos 90% dos brasileiros confiam em vacina. Cerca de 10% às vezes ficam na dúvida. E cerca de 4%, 5% realmente não querem se vacinar. Isso sempre existiu", diz.
 

Para a pediatra, os dois fatores principais no Brasil são os "Cs" da "complacência" e "conveniência": a complacência ocorre pela falta de percepção de risco – quando as pessoas não percebem o risco de não se vacinar por não terem visto um caso daquela determinada doença há muito tempo, por exemplo), também podem demorar em fazê-lo; e, se no dia em que forem a um posto de saúde a vacina não estiver disponível, elas tendem a não voltar (a conveniência).

Uma pesquisa do Ibope divulgada na segunda-feira (7) apontou que 72% dos brasileiros das classes A, B, e C, os alunos só devem voltar a ter aulas presenciais depois que uma vacina para o novo coronavírus (Sars-CoV-2) estiver disponível.

Em agosto, uma pesquisa do Datafolha apontou que 89% dos brasileiros pretendem se vacinar contra o novo coronavírus assim que a vacina estiver disponível.

Por estado

Os dados do PNI mostram que o Distrito Federal é a unidade da federação (UF) com maior índice de cobertura vacinal infantil: fica próxima de 70%. Em seguida vêm o Tocantins, com 64%, Rondônia, com 61%, e Minas Gerais e Espírito Santo, com 60%.

Os piores estados foram o Amapá, com 25%, o Maranhão, com 35,5%, e o Rio de Janeiro, com 36% de cobertura. O Pará também teve cobertura abaixo de 40%.

 

Cobertura vacinal (em %) em 2020 por UF

 
Total 51,56
Distrito Federal 68,91
Tocantins 63,67
Rondônia 60,62
Minas Gerais 60,44
Espírito Santo 60,05
Mato Grosso do Sul 59,29
Santa Catarina 58,69
Mato Grosso 57,16
Rio Grande do Sul 57,05
Paraná 56,96
São Paulo 56,88
Goiás 55,14
Amazonas 54,41
Ceará 52,90
Roraima 51,72
Piauí 48,72
Pernambuco 47,55
Rio Grande do Norte 47,42
Paraíba 46,77
Bahia 44,28
Alagoas 44,14
Acre 43,55
Sergipe 42,18
Pará 38,44
Rio de Janeiro 36,01
Maranhão 35,50
Amapá 25,33

Para o infectologista José David Urbaéz, diretor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia no Distrito Federal, o distrito tem um histórico de boa cobertura vacinal, e os motivos incluem o fato de a criação de Brasília ter sido planejada.

"Isso se seguiu, na década de 80, da melhor rede de saúde pública do país, que inclui tanto a parte hospitalar como uma rede de centros de saúde muito capilarizados em torno do DF. Nenhum outro lugar conseguiu essa rede de postos de saúde, que são fundamentais para essas políticas de imunização", explica.

"Dos anos 2000 para cá, começou com uma política de desmonte – no Brasil todo e em Brasília também. Começou a ter ausência de recursos humanos – e o treinamento dos recursos humanos na imunização é muito particular, tem que saber de cadeia de frio, transporte, armazenamento. As pessoas foram se aposentando e não teve reposição. Foi então murchando toda essa estrutura, que era muito forte. Ainda é, mas nem a sombra do que foi", afirma Urbaéz.

Ele explica que o Amapá, o último do ranking, tem uma estrutura de saúde precária; já o Maranhão tem o segundo menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, atrás apenas de Alagoas, "o que aponta para precariedade em estrutura de saúde", lembra o médico.

O Rio de Janeiro, por outro lado, "chama atenção" pelas condições do sistema de saúde, diz Urbaéz.

"A crise econômica do Estado do Rio de Janeiro, que vem desde meados da década passada, tem muito reflexo na parte de saúde publica, que é muito, muito, difícil, com dificuldade de acesso. A estrutura de salário é muito ruim, a infraestrutura bem mais sucateada, embora a doença do sucateamento seja geral", avalia.

Nota do Ministério da Saúde

"O Ministério da Saúde informa que os dados de alcance das coberturas vacinais de 2019 e 2020, atualmente disponíveis, são preliminares e estão em fase de fechamento. Estados e municípios têm até final de setembro para inserção dos dados referentes a 2019, e os dados de 2020 serão consolidados em 2021. Sendo assim, neste momento, não é possível avaliar a adesão à vacinação deste ano. O alcance das coberturas vacinais é definido a partir do encerramento da inserção dos dados de vacinação no sistema de informação pelos estados e municípios, o que ainda está ocorrendo.

A ampliação do prazo foi concedida devido à migração e integração nos Sistemas de Informação de Vacinação e da Atenção Primária que inclui as salas de vacinação, com objetivo de integrar os dois sistemas e melhorar a qualidade dos dados fornecidos. A conclusão dessa transferência possibilitará a análise dos dados de 2019 de forma definitiva.

Cabe ressaltar que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde segue com as ações de vacinação em todo o Brasil –, respeitando as diretrizes e orientações de segurança para evitar o risco de transmissão da Covid-19.

Mesmo diante da pandemia, foram mantidas e prorrogadas as estratégias de vacinação contra o sarampo em pessoas de 20 a 49 anos. Outras ações serão realizadas no segundo semestre de 2020, como as Campanhas Nacionais de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação para a atualização da situação vacinal de crianças e adolescentes menores de 15 anos.

Além disso, começou nesta segunda-feira (7/9) a Operação Gota para os estados da região Norte - que visa atualização da caderneta para comunidade ribeirinha, população indígena e rural.

O Ministério reitera a importância da vacinação e afirma que tem ampliado as estratégias de conscientização da população, bem como ações junto a profissionais de saúde, com o objetivo de manter as altas e homogêneas coberturas vacinais e, consequentemente, reduzir os riscos de introdução e transmissão de doenças imunopreveníveis no país.

O Brasil possui o maior programa público de imunização do mundo. Por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), todos os anos, mais de 300 milhões de doses de imunobiológicos são distribuídas aos estados brasileiros. Apesar disso, nos últimos anos, observa-se que as coberturas vacinais vêm apresentando redução.

Alguns fatores fazem parte deste processo, como a falsa sensação de segurança causada pela diminuição ou ausência de doenças imunopreveníveis; o desconhecimento da importância da vacinação por parte da população mais jovem – que cresceu com algumas doenças erradicadas pelo sucesso das campanhas de vacinação ao longo dos anos, e as falsas notícias veiculadas especialmente nas redes sociais sobre o malefício que as vacinas podem provocar à saúde."

A resposta do órgão também inclui os dados na tabela abaixo, ainda preliminares, de janeiro a julho deste ano:

   

Coberturas vacinais das crianças menores de 1 ano e 1 ano de idade, em 2020*, Brasil (%)

Vacinas 2020 (%)
BCG 58,49
Hepatite B em crianças até 30 dias 51,49
Rotavírus Humano 63,21
Penta 61,92
Pneumocócica 66,25
Poliomielite 60,69
Meningocócica C 63,44
Febre Amarela 47,5
Tríplice Viral D1 65,46
Hepatite A 60,18

Fonte: Leia a matéria na íntegra em G1.

Créditos da Imagem Destacada: Vaccine Kids - imagem criada por freepik - disponível em br.freepik.com.

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